A biblioteca da faculdade de direito da USP dispõe atualmente de três localizações para o seu funcionamento: o Prédio Histórico, onde deve permanecer a biblioteca central; o Edifício Anexo IV – objeto do presente concurso para abrigar a biblioteca dos departamentos; e dois pavimentos disponíveis no Edifício Cláudio Lembo – onde propusemos dispor parte do programa técnico de funcionamento administrativo da biblioteca.

Esta dispersão espacial da biblioteca da faculdade de direito é lida como elemento enriquecedor do entorno urbano imediato, conferindo vitalidade ao espaço público do centro de São Paulo ao se apropriar das ruas existentes como espaço de conexão entre suas funções, sem necessidade de túneis, pontes ou passarelas. A Universidade agrega à cidade e a cidade se beneficia da presença efetiva de sua comunidade acadêmica.

O presente projeto visa de forma pragmática adequar o Edifício Anexo IV para o novo uso proposto: abrigar a biblioteca dos departamentos, oferecendo franco acesso ao numeroso contingente de usuários (estudantes, pesquisadores e docentes), garantindo a possibilidade de ampliação do acervo com projeção de crescimento para os próximos 50 anos, e minimizando, de certa forma, a atual fragmentação espacial administrativa.

O partido arquitetônico para adequação do Anexo IV surge para responder às necessidades físicas, técnicas e espaciais de uma biblioteca em sintonia com o estado da arte deste programa arquitetônico. E serão estas respostas funcionais que conferirão ao projeto a plasticidade de seu nobre caráter institucional e cultural, bem como a sua respeitosa inserção no conjunto construído da Rua Senador Feijó, 205.

A primeira decisão de projeto contemplou a ampliação do edifício, fazendo uso da maximização do potencial construtivo da edificação, através da unificação de suas lajes em planta única e adicionando cinco novos pavimentos, possíveis graças a um nova estrutura metálica independente e do reforço da estrutura de concreto existente suportando assim a carga de uso do acervo e fluxo de pessoas.

Esta ampliação obedeceu à necessidade de ampliar em aprox. 50% a área do edifício existente, considerando o programa solicitado e a previsão de ampliação do acervo para os próximos 50 anos.

Para a nova organização espacial e estrutural partimos da concepção de espaço servido e espaço servidor do renomado arquiteto Louis Kahn: plantas-tipos flexíveis para áreas de acervo e leitura e um novo núcleo rígido de serviços.

O espaço servido dota a biblioteca de qualificação espacial ao priorizar os espaços de consulta e leitura. As áreas mais luminosas para noroeste e sudeste, fachada frontal e posterior, foram destinadas às áreas de leitura, por outro lado, o acervo bibliográfico fica protegido da incidência constante de luz ao ser organizado na área central de cada planta (reforçada estruturalmente).

Para dotar de conforto lumínico e térmico, a fachada noroeste foi revestida por uma nova pele composta por esquadrias metálicas e bandejas de luz de painéis de alumínio composto (ACM), estas últimas além de assegurar durabilidade e fácil manutenção, compõem plasticamente a edificação. As bandejas de luz rebatem incidência solar e se prolongam na edificação através do mobiliário da área de leitura. As esquadrias metálicas de vedação de vidro foram pensadas como elementos fixos, uma vez que o edifício necessita de climatização artificial e isolamento acústico para o seu melhor funcionamento. Nas plantas-tipo de distribuição do acervo da biblioteca departamental, cada andar oferece aos usuários áreas de leitura coletiva, individuais (celinhas), privadas (salas herméticas), todas elas com vistas privilegiadas para a cidade de São Paulo. Os acervos divididos em mais de uma planta-tipo foram conectados entre si por escadas helicoidais, mantendo-se deste modo a integridade espacial da coleção e facilitando a consulta às fontes.

O espaço servidor é a otimização dos serviços num núcleo rígido paralelo à empena ocidental da edificação. Este núcleo abriga os dois novos elevadores, o novo sistema de escada dupla pressurizada, um duto de shafts, um monta-cargas que serve a área de atendimento/serviço de referência, os sanitários e outros serviços de apoio para cada andar da biblioteca. Esta área permite que o edifício esteja qualificado tecnicamente com as novas tecnologias de intralogística de funcionamento de uma biblioteca inteligente, como o sistema: “book sorter” (sistema de esteiras rolantes para devolução e organização do acervo, compatível com os sistemas eletrônicos de gerenciamento de bibliotecas – “LMS” Library Management Systems). O projeto também sugere a adoção de sistemas eletrônicos de caixas de auto-atendimento para consultas e empréstimos.

Os shafts, monta-cargas, elevadores e a tecnologia “book sorter” permitem organizar a relação de fluxos internos em um ambiente relativamente pequeno, estabelecendo com claridade a área de público e a de funcionários, garantindo qualidade de trabalho aos bibliotecários e acessibilidade universal aos usuários.

No térreo dispusemos o grande hall de acesso, com espaço de exposições, área de atendimento e guarda-volumes. O embasamento do edifício dialoga em altura com alinhamento predial da quadra, oferecendo um único portal de acesso. No subsolo o público é convidado a frequentar o espaço multiuso e a sala multimídia; ali os funcionários acedem à área de vestiários e outras áreas técnicas.

Nos últimos andares, acrescidos à volumetria original, a administração controla a edificação com sua sala de chefia e reuniões. O público acede a este volume para usufruir de uma vista panorâmica do centro de São Paulo no café-bookstore, ambiente saguão ao auditório localizado logo acima.

Por último, para um melhor aproveitamento do programa solicitado, foram dispostos no Edifício Cláudio Lembo os espaços referentes à área técnica da administração da biblioteca: SAAP, SIPP, SPT, sala de reserva técnica, serviço de encadernação, pequenos reparos, restauração e sala de quarentena. Estes serviços, por seu caráter de suporte prévio à disposição no acervo, não se veem prejudicados pela não contiguidade física à biblioteca departamental.